Estiramento, Contratura ou Distensão Muscular?

Quem nunca ouviu alguém dizer que sentiu uma “fisgada” na coxa, panturrilha ou nas costas durante a atividade física?
A palavra “fisgada” que, segundo nosso dicionário significa dor violenta, intermitente ou pontada em determinada região, trata-se da manifestação clínica de uma lesão muscular. E, como quadro clínico, o paciente apresenta uma dor, que pode ser desde muito discreta até de forte intensidade, causando pouca ou bastante limitação.
Acontece que para o nosso corpo se movimentar são necessárias duas ações do músculo: a ação de contração e a de relaxamento, as quais formam o ciclo de contração muscular voluntária. Esses movimentos são essenciais para que o gesto esportivo seja realizado. E quando uma solicitação da contração do músculo vai além da sua capacidade fisiológica ocorre a chamada lesão de sobrecarga e, com isso, o músculo se machuca. O estado em que ele se encontra neste momento da sobrecarga (contraído ou relaxado) é que vai definir o tipo da lesão: contratura, estiramento ou distensão muscular.
As lesões musculares são muito comuns na medicina e fisioterapia desportiva, compreendendo cerca de 10% a 30% das lesões no esporte (Lewin,1989).
Contratura muscular é quando um pequeno grupo de fibras musculares se contraem excessivamente de forma não voluntária (espasmo). Ao contrário do estiramento e da distensão, a contratura não gera lesão na fibra muscular. Ocorre a formação de nódulos no músculo que provocam dor e sensação de fadiga, dificultando ou impedindo determinado movimento.
Estiramento muscular é uma lesão nas fibras musculares causada por um alongamento excessivo do músculo. De acordo com o grau de estiramento, pode haver lesão sem ruptura das fibras, ruptura parcial ou até a ruptura completa do músculo. A lesão caracteriza-se por dor muscular local, que piora ao esforço e também pode apresentar hematoma. É comum acontecer durante a prática de atividades esportivas.
Distensão muscular é uma lesão na junção músculo-tendínea ou no tendão, causada por um alongamento excessivo do músculo. Assim como no estiramento, a distensão também é classificada de acordo com o grau da lesão. Pode haver lesão sem ruptura do tecido, ruptura parcial ou até a ruptura completa do músculo ou tendão. É comum ocorrer uma distensão quando há falta de aquecimento e alongamento. O próprio cansaço muscular contribui muito, mas o agente causal é sempre um movimento forte de rápida contração ou movimento exagerado contra uma grande resistência (figura 1).

Figura 1 - mostrando ruptura do músculo reto femoral.
As distensões são classificadas segundo o grau de intensidade, comprometimento tecidual e dano muscular sendo (figura 2):

FIGURA 2 - GRAU DA DISTENSÃO MUSCULAR.
Grau 1 de o mais leve (rupturas teciduais pequenas),
Grau 2 (comprometimento macroscópico das fibras com laceração de um número moderado de fibras) e
Grau 3, o mais grave sendo a ruptura total em um ponto da unidade músculo tendínea (figura 3).
Nem sempre é possível diferenciar clinicamente uma contratura de um estiramento ou distensão (exceto as de maior grau), apesar dos exames de imagem sofisticados, pois independente da causa (músculo contraído ou relaxado) o processo inflamatório que se instala após a lesão é muito semelhante em qualquer uma das três situações, bem como o tratamento, que também são parecidos, variando apenas no tempo de recuperação, de acordo com a gravidade.
O que não podemos em hipótese algum é pensar que uma lesão foi apenas uma contratura ou apenas um estiramento, ou ainda uma pequena distensão.
==>Lembre-se que toda lesão é séria! Caso alguma lesão apareça, consulte o fisioterapeuta, ele poderá iniciar o tratamento mais adequado para retornar aos exercícios com segurança.
As principais causas das lesões são:
desequilíbrio muscular;
flexibilidade precária;
déficit no preparo físico;
estiramento excessivo;
treinamentos deficientes;
overtraining;
fadiga ou sobrecarga muscular;
contração muscular violenta e rápida contra uma grande resistência.
A reabilitação em casos de lesão muscular tem por objetivo reverter o quadro e capacitar o indivíduo ao retorno funcional o mais breve o possível, além de evitar riscos de novas lesões.
O tratamento fisioterapêutico é dividido em três fases baseadas nas fases de cicatrização do tecido, sendo:
1ª fase – inflamatória aguda (duração: aproximadamente 3 dias): a ruptura de fibras colágenas e vasos sanguíneos levam a hemorragia e a liberação de fatores inflamatórios. Há formação de edema e aumento da intensidade dos sinais inflamatórios, além de incapacidade funcional.
2ª fase – reparação tecidual proliferativa (duração: aproximadamente 3 semanas): a reparação tecidual se inicia durante as primeiras 24 horas e se intensifica após o 3º dia pós trauma. Há um aumento da produção de fibroblastos que estarão infiltrando-se nos tecidos lesados. Sua principal função é sintetizar fibras colágenas que estão sendo depositadas aleatoriamente. Paralelamente a isto, há neoformação vascular e aumento da remoção das células mortas e vasos sanguíneos (macróofagos).
3ª fase – remodelação tecidual cicatricial (duração: alguns meses, podendo chegar a 1 ano): nesta fase a área já está cicatrizada e os sinais clínicos bastante diminuídos, porém o tecido neoformado encontra-se desalinhado e estruturalmente desorganizado, com pouca força de tensão. A capacidade de resistência tecidual aumenta proporcionalmente ao realinhamento das fibras colágenas.
Os objetivos do tratamento fisioterapêutico são: analgesia; redução do edema; controle do processo inflamatório; restaurar amplitude de movimento, força muscular, resistência e flexibilidade; recuperação de agilidade; reabilitação proprioceptiva; retorno ao esporte; orientações preventivas.
As condutas de tratamento, segundo cada fase seriam:
1- FASE INICIAL: da língua inglesa PRICE (protection; rest; ice; compression; elevation) compreendendo proteção, repouso, “ice” gelo local, compressão local e elevação. Posturas que promovam relaxamento da região afetada e estruturas adjacentes; repouso; uso de imobilizadores (bandagens funcionais); exercícios passivos; e orientações para casa. Devem-se evitar movimentos ativos na área afetada.
2- FASE INTERMEDIÁRIA: nesta fase o reinicio do movimento local; a descarga de peso sobre o membro afetado e o ganho de amplitude de movimento de verá ser controlado conforme a dor do paciente. Com a melhora do processo inflamatório, e diminuição do edema local deverá ser incentivado a movimentação ativa através de exercícios isométricos contra resistência progressiva, alongamentos adequados; mobilizações para a restauração da capacidade funcional , crioterapia; início de exercícios de propriocepção.
3- FASE FINAL: Deve-se trabalhar o ganho de elasticidade; intensificar os alongamentos ativos; exercícios isotônicos e isocinéticos; exercícios de FNP (KABAT); coordenação neuro muscular; treino proprioceptivo (prancha de equilíbrio e cama elástica); agilidade e treino do gesto esportivo.
Fica a dica: A reabilitação das lesões musculares é muito importante, porém no atleta a melhor conduta é a prevenção, feita através de orientações adequadas de treinamento e preparo físico, incluindo trabalho postural e de conscientização da importância do aquecimento e alongamento globais no início e término de um jogo ou treino. Observar também a carga e o “overtraining” que podem ser deletérios para a boa recuperação do atleta.
Dra Claudia Guerra P L Pereira
Fisioterapeuta
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